Por: Zeneide Ribeiro de Santana
Li, em 2003, na Folha de São Paulo, o artigo “A obra intangível”, do filósofo e professor Mário Sergio Cortella, que guardei, e do qual transcrevo o trecho que segue:
“Há uma antiga historinha – por muitos difundida – que serve para exemplificar o valor de uma intensa habilidade e o quanto nem sempre ela é reconhecida.
Conta-se que em uma imensa fábrica nos EUA, funcionando o tempo todo por 24 horas ininterruptas, plena de mecanismos sofisticados, máquinas avançadas e equipamentos hidráulicos de última geração, ocorreu uma pane desconhecida. De pronto, sem qualquer aviso, todo o sistema ficou paralisado. Ora, cada minuto era precioso, tendo em vista a perda acelerada de dólares que a parada causava. A engenharia de manutenção e o suporte técnico foram imediatamente chamados, os especialistas examinaram todas a estruturas possíveis, os relatórios informatizados e as planilhas de operação foram vasculhados e nada. O defeito não era localizado.
Passa-se um dia, dois e, no terceiro, com a direção já desesperada, prefere-se convocar dois técnicos do Japão, que, um dia após a chegada e a inspeção, já haviam desistido. No sexto dia, tarde da noite, reúne-se a desanimada diretoria, à beira do colapso criativo e próxima de buscar soluções esotéricas para sanar o imenso prejuízo acumulado. Num determinado momento, um dos diretores diz: “Lembrei-me de uma coisa! Há um velho encanador que trabalha há mais de 50 anos nesta cidade. Quem sabe, como recurso extremo, ele nos ajude”. Sem alternativa, chamam o antigo profissional que, com sua maleta de ferro já desgastada, caminha silencioso por toda a fábrica e, de repente, perto da área central, para, abaixa-se, coloca o ouvido no piso e dá um leve sorriso. Tira, então, da maleta, um martelo de borracha e, com ele, dá uma pancada no chão. Tudo volta a funcionar. Júbilo, alegrias, vivas.
O gerente financeiro, depois de abraçar efusivamente o encanador, pergunta pelo custo do serviço. Ele responde que são mil dólares. O gerente, atordoado, retruca: “Mil dólares por uma marteladinha? Não dá, não vão aceitar. Faça, por favor, uma nota fiscal detalhando todo o seu trabalho aqui”. O velhinho não se incomoda: preenche o documento e entrega ao gerente, que lê a discriminação: “a) dar a marteladinha, 1 dólar; b) saber onde dar a marteladinha, 999 dólares”.
Você, como eu, já tem dado algumas marteladinhas gratuitas?
Zeneide,
Quantas marteladinhas gratuitas temos dado, não é mesmo? Para muitos já estamos ultrapassadas, mas sabedoria da vida ninguém pode nos tirar…
Outra coisa, lembrei-me do meu pai, encanador competente…Quantas vezes resolveu problemas imensos usando a sua sabedoria prática, tecida no dia-a-dia…
Abraços,
Marlene
Também me lembrei do meu pai, que trabalhava com madeira, em construção. Chegou até a “ensinar” algumas medidas para um engenheiro… Sabedoria é, realmente, um bem intransferível… Pode estar certa de que iremos continuar martelando vida afora… Abraço também.