Uma vez, criança ainda, estava comendo pipoca, tossi e me engasguei. Nunca me esqueci daqueles segundos em que me senti sufocada, sem poder respirar. Angustiante a sensação de que a pipoca funcionava como uma rolha impedindo a passagem do ar. Quando consegui tossir e o ar entrou, o alívio foi tanto que as lágrimas escorreram dos meus olhos assustados.
Tenho ouvido testemunhos de pessoas que não conseguem descrever o que sentiram quando passaram por isso devido à ação desse vírus que anda assolando o mundo todo. Só entende quem passa por isso – dizem. Uma conhecida que desacreditava dos efeitos daquilo que pensava ser um leve resfriado, afirmou que é bem pior e mais sério do que se pode imaginar.
Ar – elemento indispensável à vida, que mesmo poluído, é um patrimônio comum a todos. Nunca precisamos pensar ” agora vou encher meus pulmões de ar!” Tudo é tão automático que fazemos a comparação ” tão fácil como respirar…”
Entretanto, quando nos conscientizamos da absoluta dependência que dele temos para viver, nossos conceitos se abalam.
Por isso tudo, presenciar a morte de alguém pela privação do ar, pela negação de um direito fundamental de qualquer ser humano, foi algo tremendamente horrível e insuportável. Como é possível – perguntamos – ver e ouvir uma pessoa suplicando pelo respirar, pelo ar abundante à sua volta, e negar isso voluntariamente, quando bastava um simples movimento corporal?
Meu Deus, a que ponto chegamos?! Tem misericórdia, Senhor, dos que morrem sufocados por tantas formas de opressão! Tem misericórdia também, Senhor, dos que causam essa opressão no seu próximo, dos que julgam e executam a sentença ao vivo, como se donos fossem do puder de vida e morte! Ah, Senhor, mais do que nunca precisamos de ti como do ar que ainda respiramos!