Usamos a expressão “ sinto muito” geralmente em ocasiões de luto, de doenças, de perdas, enfim. Falamos isso de coração partido, com enorme empatia, quando não temos outras palavras de consolo. Pode ser que às vezes isso aconteça de modo meio automático, por obrigação, pra não ficar feio, pra não demonstrar indiferença… Tão usual ou banal como obrigado, ou com licença.
Pode ser até que alguém se expresse assim de modo irônico, debochado ou como tentativa de se desculpar. Numa autoanálise verdadeira, nessa correria insana em que vivemos, não encontramos muito tempo para sentir… Vamos adiando tudo, deixando para sentir mais tarde, quando sobrar um tempinho. Ou então, numa tentativa de autoenganação, fazemos como Scarlett O”hara em ” E o vento levou“, quando passava por dificuldades : “Amanhã eu choro, amanhã penso nisso, amanhã eu sofro…”
A rotina tem o poder de nublar a mente e meio que anestesiar a capacidade de se envolver emocionalmente com o que se desenrola ao lado… Sentimentos passam batidos, pois dão trabalho… Nem nos damos conta de que ” sentir é compreender”, como diz o verso de Fernando Pessoa. Talvez por isso a empatia tenha se evadido do vocabulário, das atitudes, da própria vida. Se nada sentimos, nada compreendemos também. Claro que o discernimento, nesse caso, é fundamental.
Já passou o tempo de descongelar a alma, de aquecê-la com mais sensibilidade, para poder cantar como Djavan:
“Que a gente volte a rir de tudo/ que a vida seja longa e tudo/ num mundo de paz …. Ser feliz é logo ali “
(Num mundo de Paz)