Tenho uma colcha (que hoje chamam de cobre-leito) com duas faces; uma com listras coloridas e a outra, cinza, puxando um pouco para o marrom. Geralmente uso a face colorida, mas hoje resolvi mudar e o quarto todo pareceu triste, sem graça.
Aí pensei “Ué, mandam os idosos exercitarem a mão esquerda, mudar hábitos já arraigados, andar do outro lado da calçada “… Até acredito que sejam boas sugestões; então por que mudar o lado da colcha me deixou chateada? O dia está claro, ensolarado, do jeito que me faz bem… Se estivesse cinzento e chuvoso, vá lá…
Parece que temos a tendência de associar cores ao estado de espírito. Lembro que sempre escolhia usar uma calça cor de cinza escura nos dias chuvosos e, para tentar alegrar um pouco o visual, procurava um acessório colorido. Deve haver comprovação científica para o fato de as pessoas depressivas se sentirem piores no inverno, especialmente onde há nevascas e o sol se ausenta por dias e até semanas…
Refletindo melhor, sentir-se bem não deveria depender de como o dia se apresenta nem da combinação de cores. Bom seria conseguir uma organização interna que produzisse a capacidade de lidar com assuntos complicados de tal forma que a gente pudesse captar aromas, sons e coloridos da natureza em qualquer estação do ano e se alegrar com isso!
Motivos existem para o contentamento mesmo em situações desfavoráveis. Afinal ,“felicidade é o que se acha em horinhas de descuido”, segundo Guimarães Rosa. Então, basta descuidar um pouco da ansiedade, para a alegria vir se infiltrando.
Sim! Em vez de desvirar a colcha, melhor abraçar a gratidão para tentar reverter essa tristeza irritante. Quem sabe assim conseguirei sentir que “em pleno inverno a primavera canta em mim” ?