Cotidiano

De carona com o ladrão

 

carro

Por Zeneide Ribeiro de Santana

Dona Nega , uma das muitas viúvas que frequentam  nossa igreja, é alta, simpática, naturalmente elegante. Embora se vista com simplicidade, tem um arzinho de senhora rica.

Há alguns anos, quando seu marido ainda vivia, aposentado, com vários problemas de saúde, ela tornou-se sua procuradora num processo de revisão de aposentadoria. De vez em quando precisava ir ao centro de São Paulo para acompanhar o tal processo, na Vara da Justiça Federal.

Numa dessas  vezes, quando deixava o elevador para sair em direção ao Metrô, foi abordada por um rapaz alto, loiro, bem vestido, que colocou  o braço em seus ombros , recomendando que apenas fosse andando, calada. Na esquina, mandou-a entrar num carro branco  onde estavam o motorista e outro homem no banco da frente, os dois de terno e gravata.

Terrivelmente assustada, entregou a bolsa grande onde carregava os documentos. Aí teve a certeza de que eles pensavam que havia muito dinheiro nela.

Quando o loiro revirou a bolsa e nada encontrou, além dos papéis e um porta-moedas com cinco reais, perguntou sobre cartões e talões de cheques. ” Não tenho”- disse a dona Nega, falando a verdade. Não acreditou e mexeu até no forro. Enquanto isso, ela orava mentalmente, pedindo que Deus a protegesse e livrasse sua vida; seu medo maior era morrer e deixar o marido doente, sem ter ninguém que cuidasse dele. Os assaltantes da frente se viraram e continuaram o interrogatório: onde morava, se tinha jóias em casa, se os seus filhos tinham dinheiro…  Com uma calma que não sabia de onde vinha, respondeu que eram pobres, viviam com bem pouco, tanto que vinha de uma  consulta sobre a revisão da aposentadoria dele. Não tinham  filhos e nenhum bem material de valor.

Percebeu que se irritaram, porém não insistiram mais. Ela continuava orando no íntimo, sem saber onde estavam. De repente, o carro foi diminuindo a marcha, até que parou e o loiro, quase gentilmente, mandou-a descer.

Atordoada, percebeu que estava na entrada de São Caetano, perto do ponto de ônibus que a levaria para casa. Quando chegou, o marido reclamou pela demora e ela chorou muito, desabafando todo o sufoco por que passara. Mas, com a mesma intensidade, também agradeceu pelo livramento que o Senhor lhe proporcionara.

Tímida, desacostumada a falar em público,  conseguiu testemunhar isso na Escola Dominical. Nunca me esqueci desse testemunho : ela foi assaltada, não tiraram nada dela e ainda veio de carona!

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

4 Comments

  • Que bom ler tantas bençãos que Deus dá a seu povo.Ele realmente é fiel a todos que o servem.Gostei demais de ler este testemunho da Dna Nega.

    • Faz tempo, quando o rev. Pedro ainda estava aqui…Sempre é bom lembrar a fidelidade de Deus, não é mesmo?

  • Esta história da Dona Nega é muito bonita! Mostra o cuidado e amor de Deus para conosco…Como é bom registrar os testemunhos…Eu já havia me esquecido deste…

  • E, quando a gente conhece a pessoa,pode avaliar melhor,não é mesmo?