Cotidiano

Sentimento

Written by Zeneide

Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

                   Adélia Prado

Gosto desse texto porque também acho o sentimento algo precioso, uma daquelas coisas que não precisam de definição. Sente-se e pronto! Nem há necessidade de tanto discurso, tanto palavrório, para comunicar afeto; bastam alguns parcos gestos, poucos ou mesmo nenhum monossílabo para mostrar ternura, solidariedade, empatia, presença imprescindível…

Em nossa família, nas minhas mais antigas lembranças, não era comum a demonstração pública de carinho. Algum afago na cabeça, um abraço meio desajeitado, um olhar mais prolongado faziam as vezes de grandes comunicações sentimentais ou de beijos afetuosos. “Amor”, como no poema, realmente era uma palavra de luxo.

Mas, não era amor aquela moeda reluzente tirada do bolso do avental, que a Vó Tila nos dava quando estávamos acamadas? E a peteca artesanal, feita de palha de milho e enfeitada com penas de galinhas,  inigualável, que o vô Pedro inventava para nos divertirmos? E os biscoitos de polvilho, os pirulitos de tabuleiro que a vó Carolina fazia para os netos? Que dizer do cafezinho fumegante que dona Braulia prazerosamente coava para oferecer às filhas e aos genros?

As novas gerações são mais expansivas, graças a Deus. Conseguimos, hoje, nos expressar melhor por meio de palavras e atitudes. E é muito bom olhar nossos amigos, irmãos, filhos (e agora os netinhos abençoados) e dizer “Eu te amo”, olhos nos olhos, com toda a emoção, sinceramente, do fundo do coração.

E quem conhece o amor de Deus, o Pai eterno, então? Pode reconhecer, com gratidão, as inúmeras bênçãos que recebe diariamente e ter prazer em compartilhar esse amor com atitudes, sem necessidade de muitas palavras…

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

2 Comments

  • Zeneide: você ainda consegue tempo para escrever!!!

    Minha família era muito parecida… Pouquíssimos gestos explícitos de carinho… Tudo era muito contido. Hoje tudo é muito diferente! Acho que é melhor, mas só o tempo dirá …

    • Deve ser melhor, sim! Atitudes afetuosas acompanhadas de palavras gentis fazem diferença! Grande abraço.