Em 1920, em uma partida de xadrez com Toledo Malta, este contou a Monteiro Lobato a história de um peixinho que, saído do mar, desaprendeu a nadar e morreu afogado.
Lobato disse que perdeu a partida porque o peixinho não parava de nadar em suas ideias, tanto que logo se sentou à maquina e escreveu A História do Peixinho Que Morreu Afogado. Esse conto deu origem ao livro A Menina do Narizinho Arrebitado, que não é nada mais, nada menos do que a origem do Sítio do Pica-pau Amarelo.
“Quanto mais se vive mais se aprende”– é o que ouvimos desde sempre. E é necessário continuar esse processo de aprendizagem pela vida afora, pois dizem que as pessoas começam a envelhecer quando param de aprender.
Estranho esse conceito de desaprender…Talvez seja uma ação quase inconsciente, causada por desleixo, por falta de prática ou, mais provável, porque aquilo se tornou desnecessário, inútil ou prejudicial. Fumar e beber, por exemplo, deveriam ser desaprendidos. Quem lida com crochê ou tricô, quantas vezes quebra a cabeça para lembrar um ponto que antes fazia tão bem? Será que desaprendeu ou esqueceu apenas?
Lembro-me de uma conversa que tive, há muito tempo, com uma avozinha de mais de 90 anos. Ela me contou que sua neta, quando adolescente, se encantou com um cigano de um bando que acampou na cidadezinha em que moravam. Fugiu com ele e viveu alguns meses acompanhando o bando. Sua voz era puro desencanto quando disse que a neta voltou mudada, muito diferente. Tinha aprendido a furtar… Eis outra coisa que deveria ser desaprendida, assim como mentir, julgar, sonegar, subornar…
Por outro lado, há muitas outras que deveriam ser reaprendidas: agradecer, pedir licença, se desculpar, repartir, respeitar…
Escreveu Rubem Alves:
“Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.”
Eu também!
