Por: Zeneide Ribeiro de Santana
Usar ou não o hífen sempre foi um problema, antes da última reforma ortográfica. Depois, então, ficou ainda mais complicado. Uma professora de Português confessou-me que se já não sabia direito empregar o hífen, teria grande dificuldade para se atualizar. Se a grafia anterior era microondas, agora deve-se escrever micro-ondas, só para dar um exemplo.
Quando trabalhava com revisão de provas e textos, minhas colegas e eu dominávamos bem o assunto; tínhamos material de consulta, que raramente precisávamos utilizar. Mas, quando ocorreu a reforma, tínhamos de realizar consultas frequentes (palavra que achávamos estranhíssima sem o trema!). Para evitar perda de tempo, anotávamos as palavras já pesquisadas.
Compartilhávamos uma mesa grande, sentadas uma em frente à outra. Numa tarde, estávamos atarefadíssimas, mergulhadas há um bom tempo na revisão, naquele silêncio que a atividade exige. De repente, do nada, a Sônia disse :
– Cabeça de porco!
Perplexa, saí das profundezas do texto que relia e vi que ela se dirigia a mim. A troco de quê ganhava aquele adjetivo? Antes que pensasse em retrucar “Mão de vaca!” , ela continuou:
-Cabeça de Porco, o cortiço lá do Aluísio Azevedo… Será que tem hífen?
Quando me viu respirando aliviada, percebeu meu espanto anterior e caímos na risada. E foi bom aquele riso conjunto que serviu para aliviar a tensão de tantas horas de trabalho contínuo.
Já faz algum tempo, mas toda vez que me lembro do “Cabeça de Porco” , ainda rio sozinha. A propósito, com ou sem hífen, Sônia?