Ouvindo conversas

Por: Zeneide Ribeiro de Santana

Às vezes a gente se espanta com frases ou comentários ouvidos ao acaso, fora de qualquer contexto. Meu pai contava que um dia, chegando ao trabalho, ouviu duas senhoras falando sobre um crime; uma perguntava e a outra respondia, com detalhes escabrosos. Ele não aguentou e indagou onde e quando tinha acontecido aquilo, pois não estava sabendo de nada. Cidade pequena… Elas começaram a rir e disseram que era o capítulo da novela que uma delas tinha perdido…

Já ouvi frases incríveis en passant . Registro algumas.

No trem: “Odeio o Boticário! Minha mulher pegou a mania de perfume, desodorante, creme, tudo dessa loja. Não aguento mais trabalhar só para dar lucro ao Boticário, pô!”

No ponto de ônibus, fiquei arrepiada quando um tiozinho disse : ” O Brasil não tem jeito mesmo! O que gente precisa é de uma boa ditadura!”

Na 25 de março: ” Descobri que ele tem uma amante. E a amante dele é a minha irmã!” Surpresa, olhei para trás, mas as duas já viravam a esquina. Quem seria “ele” ?  Não deveria ser o marido da que falou… Só Nelson Rodrigues explicaria…

No ônibus, um senhor sentou-se ao meu lado e me deu um relatório da sua saúde, mostrando a sacolinha de remédios que tinha ido buscar no posto. Depois me contou que ia fazer bodas de ouro. Quando lhe dei os parabéns, veio com esta: “Eu devia era ganhar um troféu, por aguentar aquela velha faladeira por cinquenta anos!”

“Se você morrer, eu mato você!” – essa foi no celular.

Nem humor negro escapa:” Minha avó tinha de morrer no domingo? Se fosse dia de semana, eu teria folga no trabalho!”

Duas mulheres numa loja: ” Olhe que vestido bonito!” – ” Bonito mesmo- disse a outra-  mas ficaria ridículo em você!”

Interessante que a maioria das frases expressa reclamação e há um lado positivo nisso: um bom desabafo pode até economizar sessões de terapia… Que os psicólogos  não me ouçam!