Cotidiano

Não perdi minha mãe

Written by Zeneide

Não! Não perdi minha mãe! Embora ela tenha partido há quase duas décadas, continua aqui, bem viva na minha e na memória das minhas irmãs. Falar do que ela foi, do que fez ou do que representou para nós é repetir todos os clichês, o que é comum, principalmente nessa data.

Que há de especial no amor de mãe?  E quem não sabe? Só se a insensibilidade ou o egoísmo exacerbado impedem alguém de perceber nela a preocupação, a doação, o carinho nem sempre demonstrado, o sacrifício das próprias necessidades… Vejamos:

– a jovem mãe carente que passou o dia todo com o filhinho febril na fila de uma UPA esperando atendimento. Quando reúne suas poucas moedas e compra um cachorro quente na calçada, o menino pergunta por que não comprou um pra ela também. Aí ela responde que está sem fome…

– a mãe coreana que anda quilômetros e toma um trem à noite, sozinha, pra levar uns documentos que o filho precisa para continuar seus estudos. Na hora de dormir num colchão, no quartinho gelado, ela escolhe o lado da porta, que tem um vão por onde entra um vento insuportável. Ele sugere trocar de lugar, mas ela diz que não conseguiria dormir no outro lado, ” muito abafado”.

– a velha mãe que trabalha o ano todo, economiza o que consegue pra fazer um bom jantar no fim do ano quando os filhos vêm da cidade para vê-la. Eles mal tocam os pratos antes seus preferidos e vão embora, “se esquecendo” de levar os cachecóis, presentes que ela tricotou com dificuldade por causa da artrose nos dedos…

Felizmente não são assim todos os filhos e infelizmente, nem todas as mães são tão abnegadas.

Sou profundamente grata a Deus por minha mãe, pois percebo que, mesmo inconscientemente, continuo sendo direcionada pelo seu exemplo para lidar com filhos e netos.

Mães erram, exageram,  pisam na bola? Sem dúvida. Afinal, filhos não nascem com um manual… Quase sempre, só o amor e o bom senso as guiam. Nisso também servem de exemplo.

Assim como disse no início, que filhos não perdem a mãe, acho o inverso também verdadeiro. Sempre me sensibilizei com a dor dos pais que têm os filhos retirados abruptamente do seu convívio! Não dá pra dimensionar essa dor! Mães, vocês os carregaram no ventre, viveram com eles o tempo que lhes foi permitido, os amaram da forma que puderam ou souberam… Portanto, não os perderam.

Hoje, quando tantas mães e filhos foram levados precocemente, oro agradecida pela minha mãe e pelas lembranças que deixou. Peço misericórdia  para os filhos que nem puderam se despedir delas e também para as mães que não podem mais abraçá- los.

“A morte é apenas a curva da estrada; morrer é apenas não ser mais visto” (Fernando Pessoa)

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.