Lições

Nós e nosso umbigo

Written by Zeneide

 

Algumas frases comuns, principalmente no universo feminino:

” Meu cabelo está um horror!” ( muito crespo/ liso demais/ armado/ sem volume/espetado/ cheio de pontas duplas…)

“Pareço uma baleia, com esta roupa!”

“Imagine eu, tão nova, com estrias!”

“Meu nariz é muito chato!”

“Detesto minhas orelhas!”

“Ah, se eu pudesse me livrar destes pneuzinhos, ficaria bem feliz!

“Tinha de brotar esta espinha nojenta logo hoje, dia da festa?”

“Minhas pernas parecem de lagartixa, de tão brancas…”

Outro dia, na sala de espera de um hospital, vi uma jovem muito produzida, que me chamou a atenção. Do lugar onde estava, só via seu perfil, o rosto emoldurado por cabelos escuros, encaracolados, presos com uma presilha estilosa. Quando ela se virou, pude observar seu rosto bonito, maquiado com capricho. Ela tagarelava, ou cantava alegremente, com outra adolescente, enquanto compartilhavam fones de ouvido.

Dali a pouco, a recepcionista chamou um nome; a menina de cabelos encaracolados se levantou e veio em minha direção. Entrei em choque quando a vi caminhando lentamente com suas duas pernas mecânicas, daquelas fininhas, que se unem às coxas, visíveis sob a saia curta, moderna. Não pude deixar de reparar também que um dos seus braços só chegava ao cotovelo. Consciente dos olhares, ela avançou com sua acompanhante e entrou  no consultório. Cabeça erguida, sorridente, como se enfrentasse mais uma vez o desafio de viver feliz, apesar das limitações.

Pensei em todas aquelas reclamações, minhas inclusive, sobre a aparência física. Como mensuramos errado!  Por isso gosto muito da frase de uma celebridade, de cujo nome não me lembro, numa entrevista que li há tempos. Quando lhe perguntaram qual era a parte do seu corpo de que ela mais gostava, respondeu: “Meu cérebro!”

Que Deus nos ajude a desviar os olhos do nosso próprio umbigo, para aprendermos a valorizar toda a riqueza que desfrutamos, para que possamos ter olhos capazes de observar de verdade o mundo e as pessoas que nos cercam, a valorizar o que realmente importa. E sobretudo, que isso nos capacite a vivenciar cada dia com muito mais gratidão.

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

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