Olhar

Dizem que os olhos são o espelho da alma. Concordo, pois são expressivos e reveladores. Mesmo quando  procuramos disfarçar os sentimentos, o olhar é capaz de trair essa tentativa.

No livro “Um lugar para todos”, de Thrity Umbigar, li a frase: “Ele inteiro está nesses olhos – pensou ela. Toda a mágoa, a morte do pai, a ambição feroz, o desejo avassalador de ser alguém, de fazer algo grandioso.” Algumas pessoas são assim, transparentes, mesmo à revelia. Sua emoção  brota num instante, escapa pelos poros, concentrando-se nas pupilas que se dilatam, sem conseguir conter toda a euforia.

Triste é quem precisa ocultar o que sente por trás de um olhar baixo, como se estivesse sob forte neblina, por vergonha ou por não ter com quem compartilhar seus conflitos. Como é bom receber um olhar de empatia, de apoio, de cumplicidade!  Assim deveriam se relacionar marido e mulher, pais e filhos, irmãos, vizinhos, professores e alunos. E vice-versa. “Quem não entende um olhar tampouco entenderá uma longa explicação” – escreveu Mário Quintana.

Terrível é aquele olhar fulminante, que aniquila, humilha, menospreza, discrimina. E é tão frequente…

Pelas narrativas dos Evangelhos, podemos perfeitamente imaginar o modo doce e compassivo pelo qual  Jesus olhava as pessoas carentes e as multidões que o seguiam, como ovelhas à procura de um pastor. Chega a ser perceptível a “íntima compaixão” que o movia e o impulsionava a curar, a ensinar, a ajudar, a salvar. Melhor ainda: ele é o mesmo hoje, conhece nossas necessidades e nos olha profundamente, com igual compaixão!

Como temos olhado aqueles com quem convivemos ou com quem esbarramos no dia-a-dia? Só censura, superioridade, impaciência, falsidade? Ou, o que é pior, total indiferença? Temos, realmente, enxergado o nosso próximo, às vezes tão carente até de um “bom dia”!

Que o amor de Cristo nos motive a imitá-lo sempre, de forma a provocar mudanças profundas em nosso comportamento, inclusive na nossa maneira de olhar.