Cotidiano Recordações

Flashes

Written by Zeneide

Certas cenas que presenciamos ficam marcadas em nossa memória, por conta da emoção que provocam. Também as imaginadas por leituras, filmes ou músicas podem produzir em nós efeito semelhante. E “a memória é o espaço onde as coisas acontecem pela segunda vez” –  escreveu Paul Auster. Registro três delas:

Na Estação Rodoviária, dois adultos e uma criança estavam sentados, quando se ouviu a voz no alto-falante anunciando as próximas partidas. O casal se levantou com as bagagens e em seguida o homem deu a mão ao garoto, que se ergueu com movimentos desordenados. Foi visível o carinho do homem mexendo nos cabelos dele e o olhar amoroso da mulher que o abraçou, enquanto se comunicavam por sinais. O caminhar vagaroso daquele trio unido por laços de afeto era um enorme contraste  naquela multidão indiferente, apressada, mergulhada no próprio mundo.

Outro momento é o sugerido pela música “Que maravilha!”, de Jorge Ben Jor:

Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só prá ver o meu amor
pois ela vem toda de branco
Toda molhada linda e despenteada, que maravilha
Que coisa linda que é o meu amor
Por entre bancários, jatomóveis, ruas e avenidas
Milhões de buzinas tocando minha harmonia sem cessar
Ela vem chegando de branco, meiga pura linda e muito tímida
Com a chuva molhando o seu corpo lindo
Que eu vou abraçar
E a gente no meio da rua do mundo
No meio da chuva, a girar, que maravilha
A girar, que maravilha
A girar

Chego a ver a menina no seu vestido branco, encharcado pela chuva, sorrindo, de braços abertos, chegando ao encontro. Lindo demais!

Fim de tarde. Num portão de madeira, cidade do interior, uma jovem mãe segura o filhinho de dois anos, que teima em correr pela calçada. Enfim, consegue distraí-lo, abrindo e fechando o portão. Na esquina, aparece um rapaz, num macacão de trabalho, que, quando os vê, apressa os passos. O garotinho dá um grito de alegria e corre para aqueles  braços fortes, que o envolvem e o jogam para o ar, entre risos e beijos. Quando os três se juntam, dá para perceber que o suor dele, resultado de uma jornada de trabalho duro, foi recompensado naquele momento. Seu pensamento se faz ouvir: “Valeu a pena!”

Cenas inesquecíveis!

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.