Cotidiano

Poesia em toda parte

Written by Zeneide

Acredito, como escreveu Manuel Bandeira, que “a poesia está em tudo, tanto nos amores, como nos chinelos.” 

De fato, dependendo do nosso estado de espírito, sensibilidade e atenção às pequenas coisas, podemos ver ou ouvir poesia em todo canto. Claro que a correria impede esse olhar atento. Estamos quase sempre focados no imediato, no instantâneo, naquilo que é útil e ou necessário. Poesia? Ora, a poesia…

É preciso, entretanto, diferenciar poesia de poema, o que, para a maioria das pessoas é a mesma coisa. Pois não é! Poesia se entende como a atividade de produção artística ou a de criar ou fazer. Com base nisso, a poesia pode não estar só no poema, mas também em paisagens e objetos. Já o poema é um tipo textual que possui uma estrutura definida com versos e estrofes. O poema, portanto, pertence à literatura, enquanto a poesia, não necessariamente.

Quase 90% da população do Amapá chega ao mundo pelas mãos de 752 “pegadoras de menino”. No dizer de uma delas, “parteira não tem escolha, é chamada nas horas mortas da noite para povoar o mundo.” Não é uma frase poética?

Outro dia, numa entrevista, ouvi de um mecânico referindo-se à esposa que trabalha com ele na oficina” Sem ela sou um pássaro sem asas”.

Outro dia mesmo, na manhã gelada, encontrei um morador de rua, com aparente perturbação mental, discursando pelas calçadas. Ele carregava um cobertor novo enrolado debaixo do braço e vociferava alto contra o frio. Entre alguns palavrões, deu para entender que uma senhora havia lhe dado aquele cobertor. Nem acreditei quando ele disse ” … velhinha enrugada, mas recheada de algodão doce!”   Lindo!

Bel, minha neta de três anos já ensaia suas frases poéticas:

“- Quero comprar seu amor, menina. Quanto custa?
– Nada, tá dentro de mim, mamãe.”  (Histórias de criança)

E a cena do filhinho no portão se jogando nos braços do pai que chega todo suado do trabalho?  A foto da menininha com a mãe; uma abraçando com os olhos fechados, enquanto a outra se derrete num sorriso comovente? A prata do luar ? O esplendor do sol se despedindo do dia? O som indefinível do piano da velha senhora que encanta o quarteirão todo? Pura poesia!

Sim, ela está por aí. Inclusive nas Escrituras Sagradas, quando encontramos o Bom Pastor, aquele que é o caminho, a verdade e a vida, comparando-nos às aves do céu e aos lírios do campo e convidando para si todos  os que estão cansados e oprimidos, para que recebam dele alívio e conforto.

Por isso, para mim, o céu é a morada da paz … e da poesia!

 

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.