Cotidiano

Chão de estrelas

chão de estrelas

Por: Zeneide Ribeiro de Santana

Linda a letra da música “Chão de estrelas”, de Orestes Barbosa, da qual transcrevo os versos finais:

A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão

De acordo com o poeta Manuel Bandeira, o verso “Tu pisavas nos astros distraída” é um dos mais belos da Literatura Brasileira.

De fato, o compositor conseguiu retratar a beleza que extraiu daquele lugar pobre e sem conforto. É possível imaginar o teto todo furado do barracão, por onde as estrelas refletiam seu brilho e a moça se movendo entretida nos seus afazeres, alheia ao fato de que pisava na sombra delas.

E não fazemos o mesmo, na correria destes dias cada vez mais velozes? Mais ainda nesta época de tanta tecnologia, que suga nossa atenção e nos divorcia da observação da beleza real, tão próxima. Curtimos belíssimas fotos de flores, de paisagens, de animais e de pessoas queridas e não enxergamos as maravilhas que nos cercam neste mundo real.

Ouvi, há pouco, sobre  situações como estas:  a espera do início de uma apresentação, o intervalo de uma aula, aguardando pelo elevador, preso no cada vez pior trânsito das capitais… São momentos normalmente curtos. A períodos, em que quase nada se faz de produtivo, dá-se o nome de “momentos de micro tédio”.  Está atacando as pessoas, especialmente jovens que começam a se sentir mal quando, por algum motivo, ficam desconectados do mundo virtual. Parece que ninguém mais suporta viver sem esses aparelhinhos que estão escravizando tanta gente. Verdadeira dependência!

Gosto muito de viver nesta época de grandes inovações e de facilidades de comunicação mas, como diz o provérbio latino, “in medio virtus”... Há tanto para ver, para sentir “ao vivo”!

Afinal, os céus continuam manifestando a glória de Deus e o firmamento, anunciando a obra das suas mãos. Portanto, “tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor. .. todo ser que respira louve ao Senhor”.  (Salmo 150:6)

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

4 Comments

  • Que lindo,, com crtz é bem assim msm que vivemos nos dias de hj , não temos mais tmp, para vermos , as maravilhas do criador,é tanta correria, que ja nem mais olhamos para o céu, mtos infelizmente nem para agradecer, pelo novo dia em que esta vivendo…

    • Mas sempre é tempo de reverter isso, não é, amiga? Gratidão- você disse bem! Vamos agradecer pelas estrelas e por tudo o mais… Beijo

  • Estive este final de semana em Ibitiura de Minas. Zona rural, campo, plantação de uvas, vinicolas e queijo feito em casa, aliás com o leite tirado ali mesmo na fazenda. Meu esposo foi atender a nossa comunidade e pude presenciar, viver, curtir bem estas palavras que você tão bem colocou…..”a tanto para ver, para sentir ao vivo” . Como a natureza é bela!!!! Não deixemos que a tecnologia nos envolva ao ponto de esquecermos que ao vivo tudo é muito mais bonito e gratificante.

  • Que bom você ter tido essa oportunidade, Dulcy! Nada substitui o cheiro do mato e a cisão do orvalho nas plantas numa manhã no campo! Deus é bom! Precisamos mesmo ter discernimento para valorizar cada coisa a seu tempo. Obrigada pelo comentário!